Se você já nos acompanha há algum tempo, sabe que por 3 anos trabalhei para um site de apostas. Foi uma experiência única que me permitiu enxergar as principais práticas empregadas pela indústria das apostas para obter os melhores resultados possíveis. Tudo é perfeitamente arquitetado para que o apostador seja estimulado a apostar sempre que puder. Porém, essas práticas trazem um questionamento moral de um problema naturalmente secundário para os empresários desse segmento: o vício do jogo. Nesse artigo, iremos abordar sobre esse assunto, desde suas causas, passando também pelas práticas utilizadas pelos sites de apostas que possam estimular essa mazela e até as formas de tratamento.
O vício do jogo: tudo começa com uma janela que ainda não foi aberta
Quero que você pense agora em seu primeiro beijo. Veja como é relativamente fácil de se lembrar. Provavelmente consegue recordar o momento, o lugar e, até mesmo, o nome da pobre coitada que se sujeitou espontaneamente (assim esperamos) a tal experiência. Essa é uma imagem que muito provavelmente ficará viva em sua memória.
Agora, tente pensar em seu terceiro beijo…
Muito mais difícil, não é verdade? Talvez você nunca chegue a se lembrar. Isso acontece porque a primeira experiência possui um poder de ancoragem único, uma janela em nosso inconsciente que nunca havia sido aberta até então. Toda experiência intensa feita pela primeira vez deixará marcas quase que absolutas, mais fortes do que as mesmas experiências repetidas em seguida.
O que Vodka tem a ver com o vício do jogo?
Esse fenômeno é tão forte que já foi devidamente apropriados pelos profissionais de marketing, sendo muito aplicado no comércio de varejo, e darei aqui mais um exemplo:
Agora, preciso que você pense em um marca de Vodka.
A maioria dos brasileiros pensariam em Orloff, se você for um endinheirado talvez pense em Absolut.
Agora, pense em uma marca de Ice.
Eu poderia apostar algumas fichas de que você pensou em Smirnoff Ice.
Isso acontece pelo efeito do pioneirismo. Diversos estudos de Marketing mostram que ser a marca pioneira tem inúmeras vantagens para se registrar na memória das pessoas. A Orloff, por ser a marca pioneira de Vodka no Brasil, e, claro, por contar com um grande investimento em marketing e reforçar o seu bom posicionamento nas gôndolas dos supermercados, confere à sua marca uma impressão duradoura em nossas mentes.
A Smirnoff utilizou do mesmo recurso. A bebida Ice nada mais é do que Vodka com limão. Então, por que não lançar: Smirnoff Vodka com Limão? Porque o produto continuaria sendo o mesmo: a Vodka, isso não garantiria um posicionamento único na mente das pessoas. Ao inventar o nome “Ice”, cria-se um novo produto, que então explora esse fenômeno interessante alcançando uma liderança em um espaço ainda inexplorado no subconsciente do consumidor.
Ok! E quando entra a parte das apostas e do vício do jogo nessa historinha aí?
Vamos transferir esse aprendizado agora para as apostas e trazer à discussão um momento chave: a nossa primeira aposta.
Como a sua primeira aposta pode te tornar um viciado em jogo
Como toda 1ª experiência impactante, consigo me recordar com alguma clareza da primeira vez que fiz a minha aposta em um site. Foi em 2008, e naquela época a Sportingbet Brasil oferecia um bônus sem depósito de R$3. Era só criar a sua conta e o dinheiro já estaria lá, me aguardando pelo meu primeiro palpite.
Apostei R$1,50 na vitória do Brasil sobre a Bolívia e os outros R$1.50 na vitória da Argentina sobre o Peru no 1º tempo. Antes mesmo do resultado das apostas saírem, a minha imaginação já ganhava asas. Conseguia imaginar que esses R$3 não seriam somente uns trocados, mas poderiam ser R$3 mil. Não, R$30 mil!
O jogo é algo que mexe com a gente, um barco que navega nos mares das nossas mais profundas carências: a possibilidade de da noite para o dia de fazer nos reconciliar com tudo que nos foi recusado pela vida através do consumo e do status que ele acena nos prover. Não nos submeteríamos mais à violência simbólica do trabalho sem sentido, dos apertos do transporte coletivo logo pelas manhãs, da desaceleração do tempo – ainda não explicada pela ciência – quando o relógio marca 17:30 e que insiste em não querer tornar-se 18:00. As tristezas da segunda-feira à alegria efêmera de um fim de semana que se aproxima.
O jogo é inicialmente isto: a projeção ingênua de uma boa vida que nos é prometida diariamente pelos comerciais de tv, e quanto maior é a sua fragilidade à esses estímulos, a sua vaidade em formar a sua identidade através das aparências, maior também será o impacto que você sofrerá. Os cientistas já perceberam que ganhar uma aposta tem os mesmos efeitos em nosso cérebro ao de um viciado em receber uma dose de cocaína.
Mas eu não ganhei nenhuma das duas apostas: o Brasil perdeu para a Bolívia nessa oportunidade, enquanto a Argentina empatava com o Peru. Naquele momento eu ainda não sabia, mas ter essa experiência foi capaz de resignificar o mundo fantasioso de dinheiro fácil que começou a se esboçar em minha mente: “não é tão fácil quanto parece ser.” Pensei. E não era mesmo.
Assim, se você lê esse texto agora e sofre com o vício do jogo, pode se surpreender que boa parte das origens desse mal tenha surgido em acontecimento muito específico: a sua primeira aposta. E é curioso perceber como que vários destinos de diversos apostadores poderiam ter diferentes direções com uma bola na trave, aquele impedimento que não veio ou o pênalti mal marcado.
Certamente, outras variáveis somam-se a isso, não podemos nos iludir que um fenômeno complexo como esse se explique apenas por esse fato.
A 1ª aposta grátis
Se existisse um nobel para a indústria das apostas, o inventor da freebet certamente seria o favorito para concorrer por tal honraria. O bônus de boas-vindas freebet, mais especificamente a “1ª aposta grátis”, trouxe ao mesmo tempo, os seguintes benefícios aos sites de apostas:
- Diminuição de custos;
- Aumento nas conversões;
- Melhoria da 1ª experiência;
Antes do bônus freebet ser inventado, o único bônus que existia era o tradicional bônus de depósito que ainda vemos em boa parte dos sites: aquele em que você deposita $100 e recebe mais $100 em sua conta, por exemplo. O bônus freebet – como você provavelmente já sabe – é uma espécie de “ficha”, você recebe apenas os lucros da aposta, e o valor apostado é descontado. O apostador iniciante não sabe a diferença de um bônus de depósito para um bônus do tipo aposta grátis, ao ver as seguintes situações:
O apostador de primeira viagem acharia a segunda opção muito mais interessante, sendo que está é exatamente a mais vantajosa para a casa de apostas, trazendo uma redução nos custos de aquisição de um novo cliente.
Como já dizia a sabedoria popular:
De graça, até busão lotado.
A palavra grátis mexe com o nosso imaginário, afinal, não há riscos com isso, é grátis, que mal poderia ter. Portanto, de uma certa forma, projeta-se a idéia de que você irá realizar a 1ª aposta gratuitamente, sem compromissos, você estaria descabido de qualquer responsabilidade, não haveria riscos, ainda que na realidade você precise fazer o seu primeiro depósito para isso. Isso trás um aumento significativo na conversão de um dos principais indicadores observados pelos gestores dos sites de apostas: first time depositors, os clientes que depositam pela primeira vez.
Se a 1ª aposta é grátis, por que não arriscar, não é mesmo? Infelizmente não é assim que funciona. A maior parte dos apostadores possuem um perfil conservador, dificilmente irão utilizar a sua aposta grátis no Catuduvense jogando contra o Atlético-MG em plena Arena Independência lotada, pelo contrário: farão uma aposta de risco reduzido que muito certamente irá resultar em uma aposta vencedora.
Veja que com um artifício simples, os sites de apostas conseguem ressignificar a experiência da 1ª aposta de seus usuários, pois ainda que essa aposta não seja vencedora, ela será reembolsada:
Ganhe a primeira aposta e então o site conquistará um espaço até então inóspito em seu imaginário; se perder a experiência negativa será amenizada com o reembolso.
O rollover torna-se uma parte essencial dessa estratégia em manter o cliente apostando no caso dele vencer a sua aposta. O rollover é necessário para os sites de apostas, isso não há o que se discutir, porém deve-se evitar sites de apostas que pratiquem rollovers abusivos, como a 10bet que cobra absurdos 10x do valor depositado mais o bônus.
Algumas práticas que alimentam o vício do jogo
Muito provavelmente você ficou curioso sobre algumas técnicas e práticas utilizadas pelos sites de apostas para estimular que se aposte cada vez mais. Veja que o que vou dizer a seguir não signifique necessariamente que eram praticadas pelo site de apostas que trabalhei, mas sim pela indústria das apostas em geral. Observe também que não digo em momento algum que esses sites queiram se alimentar do vício do jogo das pessoas. Ninguém deseja matar a sua galinha se pode lhe tirar os ovos de ouro regularmente. Interprete o que vai ler apenas como uma forma de estimular as apostas por impulso, tal como aquele chocolatinho que você compra na fila do supermercado enquanto espera ser atendido.
Depositar sempre será mais fácil do que sacar
A vontade súbita de depositar não deve ser refreada, pelo contrário: deve-se facilitar ao máximo o desejo do cliente depositar e desestimular sutilmente que saques sejam feitos. Afinal, sempre irá surgir no site aquela “barbada”, uma aposta boa demais para ser recusada, e quanto mais rápido o cliente puder ter o dinheiro já em sua conta, mais rapidamente ele estará apostando. Bons sites possibilitam que você deposite em até 2 cliques.
Você já percebeu como é fácil depositar em um site de apostas? Tenho certeza que sim. O bom site de apostas deve ter um botão bem chamativo, o que chamamos de Call-to-Action, na parte superior direita do site. Enquanto que o botão de saque não deve estar à vista do apostador. Bastaria a presença do botão sacar lá em cima para criar estímulos que são desinteressantes aos sites de apostas, uma vez que poderia justamente sugerir o cliente a realizar o saque após uma aposta vitoriosa. Sites otimizados para esse propósito permitem o saque somente no menu do apostador após alguns bons cliques:
Cancelamento de saque
Ao realizar o saque, a burocracia tradicional – e infelizmente necessária – dos sites de apostas já nos garante um desestímulo ao saque: você precisa comprovar sua identidade, a sua residência, precisa achar alguma conta daquele cartão C&A – que você só aceitou porque insistiram muito – e enviar uma cópia para eles. Sendo assim, o seu saque irá demorar de 24hrs até uma semana, dependendo do método de depósito que você escolher.
Nesse meio tempo, o capeta irá te tentar, e se de fato estiver sofrendo de vício do jogo, irá ceder. Você verá aquela “aposta garantida” logo na homepage, brilhando para você, apenas esperando o seu palpite. Mas, o que fazer? O saque já foi solicitado. Porém, se “a palavra dita, a flecha disparada e a oportunidade perdida” não voltam, o saque sim. Alguns sites astutos já permitem cancelar o saque desde que ele não tenha sido processado, e o dinheiro é automaticamente adicionado ao seu saldo.
O cashout
O Cashout por si só já merecia um tópico somente para ele. Se você acessa o Facebook, muito certamente verá diversos apostadores perguntando: “devo fazer cashout agora?”
Cashout é a possibilidade de você “vender” a sua aposta antes que ela seja realizada. Portanto, se você faz uma aposta no Grêmio e já nos primeiros momentos da partida ele faz um gol, você poderá fazer um cashout da sua aposta e ter um lucro parcial de acordo com a nova probabilidade já atualizada dele vencer o jogo. O mesmo acontece para situações adversas: você também pode realizar cashout quando as coisas não andam bem, e ter um prejuízo menor em relação ao valor apostado.
Lembre-se que o Cashout da Betfair não entra nessa questão, pois o Cashout da Betfair é simplesmente uma simplificação do processo de trading, de fato eles realizam as apostas com as odds disponíveis naquele determinado momento.
Na maior parte das vezes, sempre que você realiza um cashout em um site de apostas tradicional, você estará dando lucro aos sites de apostas, por duas razões:
- Os sites de apostas dificilmente oferecem condições vantajosas no momento do cashout, e pela incapacidade natural de calcular probabilidades de seus usuários e definir posições vantajosas, o site sai na frente novamente;
- Com o cashout você tem mais dinheiro disponível na hora, lembre-se: quanto mais rapidamente o site consegue lhe dispor o dinheiro, maiores são as chances de você apostar novamente;
Ainda que poucos apostadores entendam, estatisticamente, sempre que você aposta, aproximadamente 8% do valor apostado converte-se em lucro para os sites de apostas através do valor esperado positivo que é gerado ao site de apostas. Caso se interesse pelo tema, é só clicar no link para entender um pouco mais. Em outras palavras:
Se em uma aposta comum você está “pagando” a margem da casa de aposta uma vez, no cashout você irá pagar essa mesma margem duas vezes.
Estimulando os sentidos
Os sites de apostas e cassinos online são espaços onde a imaginação masculina é naturalmente incitada. A remota possibilidade de que se esconde em um dos diversos jogos contidos no site de ter a vida transformada por uma riqueza inesperada, já é um elemento suficiente para tornar o jogo extremamente atraente. Porém, a sociedade atual já atribuiu funções diferentes ao dinheiro que vai além de um mero meio que possibilita as trocas, hoje busca-se a sua acumulação pura e simples. Relembrar os benefícios que o dinheiro pode trazer é uma forma de impulsionar o jogador a ir além, e simbolicamente você transfere esses mesmos valores desejados para o ato de apostar, aproximando o apostador das possibilidades que se abririam através dos lucros que acenam a cada aposta realizada.
Mulher e poder são dois elementos presentes no imaginário masculino de praticamente todo homem ocidental, e diversos são os pensadores que já se debruçaram sobre esses dois interessantes temas – Freud, Schopenhauer, Proudhon, Hegel, Nietzsche, Foucault -, basta você pensar em propagandas de carro de luxo e comerciais de cerveja que você entenderá bem o que digo por aqui. Os sites de apostas também não ficam para trás, e de fotos de belas modelos nas homepages às simpáticas crupiês nos cassinos ao vivo, esses elementos estão bem presentes por lá e não é atoa:
A incoerência ideológica das afiliações
Uma comunidade de apostas, como o Clube da Aposta pode ter o seu lucro de diversas formas. Atualmente, nós possuímos o nosso curso de trading e punting como uma das nossas principais fontes de receitas, porém, antes de lançarmos o curso, o Clube se sustentava basicamente pelas receitas geradas pelas afiliações. Para explicar como funciona as receitas das afiliações, dê uma olhada nesse banner que criei para o AO nós temos em que trabalha por lá:
Em outras palavras, sempre que você se cadastrar em um banner que você encontra em qualquer comunidade de apostas, realizar suas apostas por lá e perder o seu dinheiro, cerca de 25% desse valor irá para o bolso do afiliado – nesse caso os donos da comunidade de apostas.
Para o Clube, isso não é nenhum problema, afinal os usuários que se registram em nossos banners são aqueles que estão aplicando o nosso sistema de apostas em que ensinamos a lucrar com os bônus dos sites de apostas através do nosso eBook Grátis. Por isso que sempre gostamos de deixar claro a importância de perder na casa de apostas e ganhar na Betfair: pois você estará colaborando para que possamos manter a nossa comunidade e a qualidade do nosso trabalho.
Mas agora vamos pensar em comunidades de apostas tradicionais em que o sistema não é ensinado. Isso naturalmente trás uma incompatibilidade ideológica. Pense bem: como uma comunidade de apostas pode fornecer dicas, prognósticos e palpites para ajudá-lo a se tornar um melhor apostador sendo que invariavelmente terá que torcer por suas perdas para ser remunerado?
Você ficaria extremamente surpreso em saber que existem mais pessoas do que imagina desejando o seu fracasso.
Essa são algumas das várias técnicas empregadas para fazê-lo apostar cada vez mais. É interessante que você possa identificá-las para que elas já passem a agir não somente em seu inconsciente mas também em níveis conscientes, assim você estará mais prevenido. A partir de agora, veremos as etapas do vício no jogo. Continue comigo!
As características do viciado em jogo
Ainda que eu acredite que existam diversos estudos brasileiros sobre o vício do jogo pela internet, são os acadêmicos portugueses que me parecem trazer uma grande contribuição para esse campo, entre eles destaco O caminho do jogo e o Jogo Patológico – A adição menos visível, dois trabalhos científicos muito interessantes que sugiro a leitura aos interessados.
Os estudos convergem em muitas partes, e o interessante é que todos mostram o preconceito por trás do jogo patológico visto como apenas um vício pela sociedade, e não como uma doença mental. O jogador patológico é aquele que de forma crônica e progressivamente vai se tornando incapaz de resistir aos impulsos de jogar, sendo que tem um histórico de dependência ao Álcool e ao tabaco possuem uma predisposição a também se viciarem no jogo.
Conheça as fases do vício do jogo
Tudo começa com uma pequena centelha, um estímulo inicial, aquela sorte de principiante que dá início ao êxito tornando-se a faísca necessária para a ignição do vício. Essas “boas vindas” iniciais afeta o ego do apostador comum, tornando-o, na maior parte dos casos, confiante, enquanto superestima suas próprias habilidades, servindo de estímulo para que continue jogando e aos poucos perdendo o que havia conquistado.
Em um contexto brasileiro isso é ainda mais eficaz, afinal todo brasileiro é também “técnico de futebol” e toda mesa de boteco vira uma espécie de mesa redonda. É difícil para o apostador brasileiro reconhecer que ele não sabe tanto de futebol como acredita.
Com a moral lá em cima, mais e mais apostas são feitas, e consequentemente uma perda ilógica fatalmente irá acontecer, conhecida como bad beat:
A bad beat é uma perda inesperada que geralmente nos foge da lógica. É como se ela não fosse possível em realidade alguma. Geralmente, é quando grandes favoritos fracassam para zebras, exemplos nós temos aos montes: Internacional x Mazembe, Atlético-MG x Raja, Santos x Ituano. A questão é que ainda que as chances sejam remotas, elas existem; e quando acontecem causam uma enorme perplexidade acompanhada de perdas ao apostador.
A bad beat seria um segundo gatilho que fará o apostador tentar recuperar as suas perdas a qualquer custo, iniciando a sua própria decadência. Acompanhe as fases:
- A fase de ganhos: Os ganhos iniciais serão suficientes para que o jogador se considere um grande apostador, superestimando as suas reais capacidades, resultando em apostas maiores e mais frequentes.
- A fase das perdas: Nesse momento, o jogo tem a sua utilidade virada para a recuperação das perdas iniciais. Enquanto o apostador não sente que teve o valor de seus prejuízos ressarcidos, as apostas não param. A partir daí, o jogo torna-se solitário. Com a autoestima abalada, o apostador mantém o hábito para si, não revelando mais a frequência com que se aposta, assim como os valores incluídos.
- O desânimo: As perdas se acumulam, dívidas de jogo começam a surgir e o otimismo inicial dá lugar a um desânimo sem fim.
- O profundo desespero: Esta é fase final: o descontrole emocional é máximo, podendo acarretar em pensamento suicidas. O jogo dura o dia todo, o jogador passa a faltar seguidamente no trabalho, deixando de praticar as atividades que costumava fazer. Completamente endividado, os ganhos que poderiam ser proporcionados pelo jogo já não são suficientes para cobrir o gigantesco prejuízo, entrando em uma espiral catastrófica, uma profunda imersão ao desespero e descontrole. Período, este, que antecede o suicídio.
O vício do jogo e suas ilusões
Uma vez desenvolvida a patologia, o jogador compulsivo desenvolve uma lógica própria para poder justificar cada aposta que realiza, como se fossem pequenas desculpas que dá a si mesmo para incentivar que continue apostando.
Incapacidade de reconhecer a independência dos acontecimentos
O apostador acredita que quanto maior é o período de perdas, mais próximo estará a sua tão aguardada vitória. Seria o mesmo de imaginar que uma moeda que deu cara por 3 vezes seguidas tem maior probabilidade de dar coroa na rodada seguinte. Esse pensamento auxilia a não desistência e a vontade em recuperar o que foi perdido, afinal, a sequência de derrotas lhe seria estatisticamente improvável e não haveria razão para que não faça mais uma aposta imaginando que as chances de ganhar aumentariam.
A ilusão do controle
Através de rituais, mandingas e macetes, os jogadores acreditam poder manipular os resultados de suas apostas.
Lembro que quando mais novo, eu ia em um desses botecos “copo sujo” que por via de regra sempre possuem uma máquina caça-niqueis escondida bem lá no fundo. Certa vez, conversando com um desses bebuns locais, ele me confidenciou que apertar o botão duas vezes, aumentava as chances de que a sua aposta fosse bem sucedida. Ainda que ele mais perdesse do que ganhasse, insistia em acreditar nisso.
Nas apostas esportivas, por diversas vezes vemos apostadores migrando de um site para outro, acreditando que esse outro site é capaz de lhe trazer mais sorte nas apostas que realiza do que o outro que utilizava.
Memória seletiva
Poucos são os jogadores que mantem uma planilha fazendo a gestão dos seus ganhos e perdas nas apostas. Fazer gestão de bankroll e apostar valores fixos em relação a banca é algo ainda mais raro. Portanto, ganhos e perdas são confiados à nossa fraca memória, e por não saber quanto se está apostando, não se consegue vislumbrar o tamanho do poço que já foi cavado, a memória do jogador patológico, então, destina as suas atenções aos momentos de ganho enquanto torna as perdas mais brandas.
Compreensão tardia
A compreensão tardia é o que costumo chamar de o “Profeta do Acontecido”. É o sujeito que vê a reprise de um jogo e nos diz: “Ahh laaá! Tá vendo!? Sabia que o Santos ia ganhar por 2 gols de diferença. Devia ter apostado mais nesse jogo.”
Assistir ao resultado de um evento é sempre mais confortável pois nos fornece a segurança de um desfecho único que já não pode mais ser alterado. Essa segurança, porém, pode alimentar um excesso de confiança em apostas futuras, negando a existência de inúmeras variáveis que atuam para que um partida de futebol, por exemplo, possa ter resultados que nos escapa da compreensão.
Precisa de ajuda para se livrar do vício do jogo?
Se ao ler esse texto você se identificou e sente que tem dificuldades em se controlar na hora de apostar, lembre-se que nós do Clube da Aposta estamos sempre dispostos em ouvir as experiências de nossos usuários. O vício do jogo deve ser tratado, e existem entidades que oferecem ajuda a quem precisa. Entre elas, destaco o trabalho dos Jogadores Anônimos, que reúne diversas pessoas no Brasil todo que sofrem da ludopatia, compartilhando experiências, promovendo grupos de discussão e se ajudando para vencer esse vício, sempre um dia de cada vez.
Você também pode compartilhar suas experiências por aqui, é só deixar o seu comentário logo abaixo. Lembre-se que a sua história pode ajudar diversos outros apostadores que possam estar lendo esse texto futuramente, além de permitir discussões mais profundas sobre esse assunto tão pouco discutido nas comunidades de apostas.
Espero que o texto lhe tenha sido útil. Apostar deve ser um momento de lazer moderado e não um gerador de angústias sem fim. Acredito que compartilhar a minha experiência, irá ajudá-lo a enxergar os sites de apostas de uma maneira mais crítica.
Um grande abraço